Realmente há muitos desafios na prática de escolarização popular. Como lidamos com pessoas, apesar de pequenos, cada um traz consigo uma bagagem da cultura de sua família. Inicialmente quando chegam à escola, propomos atividades diferenciadas para ver que aprendizagens ocorreram anteriormente, no lar ou em creches. Poucos são aqueles que tiveram condições de freqüentar uma escola infantil. Essa observação nos mostra os caminhos a seguir, que tipo de trabalhos devemos oferecer às crianças.
Porém ainda somos assolados pelo fantasma da reprovação e da evasão. Buscamos sempre oferecer um trabalho de qualidade para desenvolver o nosso educando integralmente. Sabemos que as famílias passam por muitas dificuldades. Essas dificuldades influenciam a aprendizagem uma vez que o educando não tem a tranqüilidade de se apropriar dos conhecimentos que lhe são oferecidos. Percebemos que o educando está ali de corpo presente, mas o seu pensamento está conectado com os problemas familiares. Daí a dispersão, a falta de interesse que comumente encontramos em nossas salas de aula.
Por isso a observação e o diálogo constante devem fazer parte do dia-a-dia da sala de aula. Mas e os conteúdos, como ficam? Nosso pensamento nos leva a um entendimento de que o importante é que a pessoas esteja bem para conseguir ter êxito na sua aprendizagem.
Através de estudos realizados, Ferreiro e Teberosky, concluíram que a aquisição da escrita ocorre através de relações do sujeito com o meio. A pessoa se apropria da escrita à medida que ela se torna objeto de sua ação e reflexão. Por isso é necessário que o professor intervenha de forma a desacomodar o seu educando para que ele se desenvolva dentro desse processo da aquisição da linguagem.
Nós mesmos, adultos, nos deparamos com situações difíceis que nos desmotivam e nos tiram do rumo. Com as crianças não é diferente, elas passam por um mundo fantasioso, criam personagens que vão tentar suprir suas necessidades ou heróis que possam vencer os monstros que estão lhes perturbando. Para um docente inexperiente, poderia dizer que tudo não passa de uma brincadeira de criança, ou que está olhando muita TV. Aos olhos de um bom observador há respostas para tudo.
Mas com o jovem, como isso acontece? O jovem é um vencedor, pois conseguiu passar pela infância com todas as suas dificuldades e dramas chegando à adolescência. E agora o que fazer? Muitos deles se desviaram da escola. Por estar fora da idade da turma, ter facilidade de entrar em conflito com os demais alunos da escola, não ser aceito pela maioria da turma, ser estigmatizado pelos professores, estas e outras questões são observadas nos bastidores da escola. Depois de adentrarem várias vezes a sala da direção escolar, chega o momento de chamar os pais e colocar a situação: “seu filho não se adaptou a nossa escola, com a ajuda do conselho tutelar nós encontraremos outra escola que possa atender as necessidades do jovem”. Mais uma vez o “problema” é empurrado com a barriga e que os outros resolvam. Isso acontece esporadicamente no meio escolar. Enviamos e recebemos alunos e não resolvemos ou não queremos ajudar.
Há uma instância para tudo. Nossos governantes devem dar condições para que a escola gerencie suas mazelas com propriedade. Para que ela não abandone ao fracasso os jovens que chegam até ela. As manifestações apresentadas pelos jovens, tanto as reações violentas como a apatia, são sinais de que algo está errado e precisa ser considerado e analisado.
Vemos o EJA como uma oportunidade para aqueles jovens que ficaram sem a resposta que procuravam anteriormente, de reafirmarem sua condição de cidadão, com seus direitos respeitados e assistidos, e mesmo tardiamente, encontrarem a tão sonhada liberdade.
Para eles a apropriação da escrita está vinculada a esta liberdade de ir e vir, de ter acesso a todos os serviços, a fazer escolhas.
Como eles tiveram algumas fases de escolarização, certamente também terão alguns resquícios de aprendizagem da língua escrita e falada.
Para eles, o processo é diferenciado, pois eles atuam na sociedade como trabalhadores, pais de família. Agora, a tarefa de alfabetizar se dará com relação à vida que levam, o dia-a-dia, as relações de trabalho e sociais, suas escolhas, sua cidadania. Busca-se preparar o adulto para que ele exerça seu papel de cidadão do mundo, compreendendo seu espaço e seu tempo e que possa competir com os demais nas ofertas de trabalho, opinar nas discussões sobre sua cidade, seu bairro, decidir o que for melhor para sua família.
domingo, 8 de novembro de 2009
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Um comentário:
Oi Maria Lucia, legal essa tua postagem, trazes elementos para pensarmos aspectos importantes na EJA. Abração!!
Postar um comentário